Viva, corpo!

Viva, corpo.

No dia que escrevi esse texto, eu havia recém raspado o cabelo. Quem o raspou foi o Ismael, meu príncipe, primeiro fui eu depois ele.

Estávamos dentro do Box sentados em um banquinho chorando, chorando muito. O cabelo dele estava lindo demais e combinava com a altura da sua barba já o meu, começava a ficar preso quando eu usava as tiaras que tínhamos comprado há pouco tempo.O sentimento aquele dia não foi de vitória, muito menos de esperança, foi de fracasso, foi de que nada que havíamos feito até aquele momento valeu a pena.Raspei ele três vezes até hoje, essa última foi a que mais doeu, ele realmente estava bonitão e volumoso. Porém, começou a cair na comida, nos casacos, quando abraçava alguém ficava uns fios na roupa, acordava de manhã com o travesseiro cheio de fios.A decisão de raspar aconteceu por que não dava mais para segurar, enrolamos alguns dias para tomar essa decisão, mas ele queria ir embora, o meu corpo decidiu que era hora de nos despedirmos dos cachos mais uma vez, e quando o corpo decide, você apenas diz:Pode levar!“Querido corpo, meu cabelo se foi. Estava gostando dele, ele era cacheado, assim como eu havia te pedido quando ele começou a crescer. Você não é mais o mesmo, você está cansado, eu sei. Teu fôlego é outro, subir escadas e chegar no topo é o teu triunfo, conversar em pé é o teu maior desafio, ficar no sol se segurando para não coçar o local da radioterapia é teu teste de paciência, exames de toque agora são cosquinhas de carinho que faço em você. Fazer planos é o meu desejo, mas preciso pedir tua permissão primeiro, afinal é você que me levará à conquista-los. Tuas folhas de couve, feijão e arroz, carne vermelha, água e suco verde são o meu presente diário de agradecimento por teu esforço.Eu preciso de você vivo!Viva, corpo.”Beijos e abraços de uma cabeça careca cheia de coisas para te escrever!Tyta Metzen

Viva, corpo!

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